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carta aberta ao deputado roberto de lucena

Observando-se a grade curricular da Universidade de São Paulo (Campus Ribeirão Preto) do médico (coluna da esquerda) com a do nutricionista da mesma instituição (coluna da direita) é possível visualizar que o médico recebe irrefutavelmente um preparo extenso e abrangente em saúde. No entanto, ao analisar a formação do curso em nutrição, é lógico concluir que um curso cujo enfoque é único e exclusivamente nutrição, forma um profissional muito mais especificamente apto à orientar e prescrever planos alimentares. Da mesma forma que, por exemplo, a fisioterapia, odontologia, fonoaudiologia, dentre outros, tem um aprofundamento muito maior em suas competências do que a medicina.

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Da mesma forma, a tabela acima expressa a carga horária do curso de medicina em comparação com o curso de nutrição, demonstrando que o nutricionista estuda pouco mais da metade da carga horária total do curso de medicina, exclusivamente nutrição versus todo um universo de aspectos que o médico estuda.

Que fique claro que não é o objetivo deste documento renegar a importância do profissional médico para a sociedade, ou o sacrifício envolvido em longos anos de estudo e a abnegação que se estenderá por toda a vida profissional do médico. Reconhecer, entretanto, os esforços envolvidos em tal formação difere de assumir uma visão fundamentalista de supremacia médica. Apesar do médico receber uma educação completa, é incoerente pensar ser possível que este, ao fim de sua formação básica, fosse totalmente apto a atuar em qualquer um dos muitos nichos da área da saúde, sem se especializar. Se isso fosse verdade, as próprias residências médicas, e as demais profissões da saúde não existiriam. Afinal, as profissões da área da nutrição e alimentação nasceram dos esforços de médicos como o argentino Pedro Escudero e o brasileiro Geraldo Horácio de Paula Souza.


Alimentar de forma desmedida essa imagem onipotente e hierarquizada do médico é negar a importância do trabalho em equipe, é desmerecer os profissionais de saúde não médicos e é contrariar o presente e o futuro da medicina. No auge do desenvolvimento tecnológico e científico, onde diariamente são feitas novas descobertas e em que conceitos nem tão antigos são constantemente refutados, o endeusamento do médico ou de qualquer profissional por sinal, o distancia de seus pares e de seu público, algo que não é benéfico nem para o profissional, nem para o campo da saúde. Os profissionais médicos devem entender que no contexto atual da saúde, não cabe mais a submissão das demais profissões de saúde à medicina, de modo que às profissões não médicas sejam delegadas somente as atribuições que o médico não deseje exercer. Mais do que isso, é necessário que os próprios médicos não desejem essa estrutura, pois o trabalho harmônico em equipe é uma tendência mundial, que só tem a agregar ao cuidado em saúde, em nosso país.
Dessa forma entendemos como opressiva e incabível qualquer medida que vise colocar o médico de qualquer especialidade em pé de igualdade em termos de competência para elaboração de planos alimentares. O acompanhamento dietoterápico do nutricionista na área hospitalar complementa o acompanhamento médico, tornando a prescrição dietética mais precisa. Além disso o acompanhamento nutricional poupa o paciente de erros comuns relacionados à alterações dietoterápicas em razão de complicações na deglutição, na aceitação, na adequação cuidando da interface da dieta prescrita, produzida e oferecida. Na presença do nutricionista, em quantidade adequada, com certeza o paciente que precisar de restrições que vão de encontro com as necessidades de acordo com cada patologia não ficará desamparado. Em contrapartida, quantos são os casos em que procedimentos são cancelados após o médico passar a visita nas enfermarias, e quando o contato com o médico é impossibilitado por qualquer motivo, forçando o paciente a ficar em jejum por horas a fio? Quantos são os casos em que é necessário adequar a consistência da dieta de pacientes oncológicos, em função de sua deglutição ou aceitação, e simplesmente deixa toda a dieta para ser descartada? Quem além do nutricionista, que vai analisar esse resto ingesta, e está presente em todos os momentos da produção seria mais apto a avaliar e adequar a dieta em tempo real? Quem além do nutricionista, que estará lá especificamente para garantir que o paciente se alimente adequadamente, terá tempo para cuidar disso? Quem além de quem acompanhou a alimentação do paciente desde sua internação, terá condições de orientar a conduta dietoterápica de alta? Ainda assim, o número de Nutricionistas nos hospitais é extremamente restrito, o que impede que esses profissionais exerçam seu ofício da forma que esse foi contemplado. Porém, nesse aspecto, os defensores da saúde da população desaparecem por completo.


De fato, sabemos melhor do que ninguém, do poder que a nutrição e os alimentos tem sobre a saúde e justamente por isso defendemos nosso campo de trabalho e o plano alimentar que é nosso objeto de trabalho. Defendemos que somos os profissionais que estudam de forma absolutamente específica o efeito da alimentação sobre a saúde e portanto os mais aptos para em constante interação com o médico num sistema de referência e contra-referência orientar a alimentação voltada para prevenir, tratar doenças e promover a saúde, por meio de alimentos e suplementos alimentares.


Atenciosamente          
Nutricionista Fernanda Rodella
Grupo Nutricionistas Unidos

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